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  • Foto do escritorDr. Sebastião Duarte

Uma visão neurocirúrgica do trânsito

Atualizado: 14 de dez. de 2021


Essa semana nós realizamos uma cirurgia de coluna bonita aqui em Jundiaí. O paciente teve uma fratura em dois níveis da coluna torácica - T3 e T4. Pudemos trabalhar no espaçamento e fixação das vértebras com 08 parafusos. Fizemos em aproximadamente 4h o procedimento.


Há alguns anos a técnica de descompressão cirúrgica envolvia um pós-operatório com colete gessado, deixando o paciente imobilizado por meses, levando a maior atrofia dos músculos tóraco-abdominais.


Entretanto, no procedimento atual permitimos uma mobilização precoce do paciente, facilitando não somente o trabalho da equipe na beira do leito, como também aceleramos as reabilitações cárdio-respiratória e motora, desenvolvida pelos fisioterapeutas.





Mas o caso traz um porém...que envolve uma discussão que vimos muito nesses meses atrás. O garoto, que sofreu um trauma em alta velocidade de motocicleta, tinha seus 30 anos. O acidente foi em uma das principais avenidas de Jundiaí.


Além dessa cirurgia, lhe faltava ainda a da perna esquerda. Entramos primeiro devido às sequelas mais graves, pois o paciente já estava paraplégico.


Moto, e velocidade

Quantas vezes vemos em nosso trânsito mais e mais desses jovens correndo. Por diversos motivos como tempo de entrega de um produto, pela cobrança do robô da empresa, ou auto-cobrança por resultados…


No fim, nos acostumamos cada vez mais com a imagem de alguns motoboys ultrapassando sinais de trânsito, correrem sem proteção, buzinando e acelerando para cima de todos, carros, outros ciclistas e também pedestres.


Porém, a dúvida acerca de como podemos respeitar melhor esses garotos (às vezes não tão garotos!), também se faz válida.

Afinal, não será simplesmente fazendo cada vez mais corridas, nem aumentando a velocidade de suas motos que farão esses acidentes diminuírem.







O custo da velocidade de entrega


Ao buscarmos nos jornais, é possível analisar um levantamento estatístico recente com 270 profissionais, 47,4% declararam rendimento semanal de até R$ 520,00 (o que corresponderia a aproximadamente R$ 2.080,00 mensais). Destes, 17,8% declararam remuneração de até R$ 260,00 por semana (aproximadamente, R$ 1.040,00 mensais).


Durante a pandemia, a parcela de entregadores com remuneração inferior à R$260,00 semanais praticamente dobrou, passando a compor 34,4% dos entrevistados.


É interessante pois, nessa mesma entrevista da BBC, uma das maiores plataformas de entrega de alimentos afirma que "Em maio, 51% dos entregadores receberam R$19 ou mais por hora trabalhada. Esse valor é quatro vezes maior do que o pago por hora tendo como base o salário mínimo vigente no país.”


Especificamente dos ciclistas e motoboys estima-se que sejam 645 mil pessoas.


Mas como faremos para não estimular essa entrega de tudo de maneira tão imediata, para que assim possamos diminuir as exigências desses trabalhadores urbanos?



A cirurgia é um trabalho que tenho orgulho e prazer em desenvolver. Mas o motivo daquele paciente ter chegado em nossas mãos sempre gera reflexão.


Um retrato do brasileiro

- 67% se identificam como brancos e 31,8% como negros (pretos ou pardos); - 87% são homens;

- 22,7% com mais de 40 e menos de 45 anos;

- 68,5% se localiza em estados do Sudeste.

- representam 0,15% dos 27 milhões de brasileiros com ensino superior - representam 15% de todos os trabalhadores informais (aproximadamente 4,7 milhões de pessoas) até maio de 2020.



FONTES

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53258465

https://changebrasil.org/2020/04/09/motoboys-em-risco-na-pandemia/


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