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  • Foto do escritorDr. Sebastião Duarte

Coronavírus e as doenças neurológicas

Atualizado: 14 de dez. de 2021


Não é novidade que com a pandemia do COVID-19 a busca por dor na coluna aumentou consideravelmente no Google. Lembremo-nos que DOR não é um sinal que existe algo machucado em seu corpo, mas sim sofrendo um forte estresse.


Ao pesquisarmos sobre as principais queixas de deterioração mental, causadas pelo coronavírus, encontramos a quarentena prolongada, o tédio, o medo de infectar-se, a frustração, a falta de informação e colaboração adequadas, as perdas financeiras, e o estigma da doença. (1)


Entretanto é importante avaliar que não são somente as comorbidades da sobrecarga física, do sedentarismo, e do estresse mental que afetam nosso sistema nervoso, mas também as doenças da inervação em si.


Todas as infecções virais tem o potencial de atingir o sistema nervoso central (SNC), dependendo de fatores do próprio vírus (como as mutações que seus genes podem desenvolver), ou dos fatores de seu hospedeiro (idade, comorbidades e imunidade). (2)



Rota do vírus no sistema nervoso



A pandemia do COVID-19, causada pela SARS-CoV2, se deve à infeção do vírus no trato respiratório, que pode levar a pneumonia e falha respiratória, possuindo um potencial lesivo ao sistema nervoso central e periférico.


Várias doenças respiratórias virais (incluindo o coronavírus CoV) são neuroinvasivas e neurotrópicas.


O sistema nervoso central é um órgão altamente protegido das infecções virais devido à:

- uma barreira periférica formada por várias camadas de tecidos,

- uma barreira de células sanguíneas,

- um sistema imune específico e altamente responsivo.


Entretanto alguns vírus conseguem atingir o SNC através de uma rota neural retrógrada, apesar de não ser claro qualquer sinal de vantagem tanto para o hospedeiro quanto para o vírus a invasão desse sistema (figura 1) (4)


Além disso, o vírus pode atingir tanto o sistema nervoso periférico (SNP), quanto o SNC pela infecção direta das terminações nervosas, ou também pelas próprias células sanguíneas.


Quando o vírus consegue ultrapassar essas barreiras mecânicas, o sistema nervoso central ativa suas microglias, que fazem parte de sua linha de defesa celular. As microglias são fagócitos que correspondem a até 10% de todo o cérebro. Entretanto, essas células gliais quando hiper-estimuladas podem ter um efeito agressor não somente ao vírus, mas também às próprias células neurais que as cercam.


Portanto, a microglia pode levar a um efeito protetivo na primeira inflamação local, porém em longo prazo, essa inflamação traz lesão direta no tecido nervoso, sendo necessária uma resposta anti-inflamatória para diminuir sua ação.


Esse controle exacerbado de ativação e desativação das células de proteção, que é chamado de “tempestade de citocinas”, a longo prazo, pode trazer sintomas como dores de cabeça, perda de lucidez, e transtornos dos órgãos devido a distúrbios neurais centrais. (4)


Se não houver controle do quadro, pensamos em um paciente que inicia uma doença de cunho neurodegenerativo. Especialmente pessoas que já possuem menor resposta imunológica, que é o que chamamos de grupos de risco (idade, comorbidades, e fatores genéticos).


A taxa de mortalidade da SARS-COV-2 foi estimada em 3,4% pela OMS. (3)


Se tomarmos como exemplo o INFLUENZA A, vírus comum e com vasta literatura, vemos sua correlação neurodegenerativa incluindo encefalites, Síndrome de Guillain-Barré, Encefalopatia Necrótica Aguda, e Encefalomielite Disseminante Aguda. (4)


Apesar de não termos um número razoável de estudos com o COV-19, é bem estabelecido que os CoV estão presentes em portadores de esclerose múltipla e encefalopatias.


No caso da esclerose múltipla, os estudos são bem aprofundados, e vale uma discussão maior, visto estarem presentes diversos CoV no SNC de pacientes desde os anos 90. O que mais nos chama atenção é o fato de esses vírus, em um longo prazo, estarem relacionados com a desmielinização semelhante às dos portadores de esclerose múltipla. Isso deve ser avaliado de maneira mais aprofundada dada a falta de tratamento curativo para esses pacientes.


Uma meta-análise realizada com 46,248 pessoas infectadas demonstrou prevalência de comorbidades - hipertensão (17%), diabete mellitus (8%), doenças cardiovasculares (5%) - o que indica que o COVID-19 e o infarto dividem os mesmos fatores de risco. (4)


Em um estudo observacional com 221 pessoas, 5% desenvolveu acidente vascular isquêmico (AVC), 0,5% hemorragia cerebral, e 0,5% trombose venosa cerebral. Essa incidência foi maior em pacientes com doenças cardiovasculares. (4)


Portanto, fica claro os perigos já estabelecidos entre o COVID19 com as doenças neurológicas centrais. Nem todas possuem bom prognóstico, cirúrgico ou clínico.


Mantenhamos a atenção e precaução como já falamos previamente, respeitando o distanciamento social, mantendo a paciência e educação na espera por vacinas eficazes e eficientes no auxílio ao nosso sistema imunológico.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1. Brooks, S.K., Webster, R.K., Smith, L.E., Woodland, L., Wessely, S., Greenberg, N., Rubin, G.J., 2020 Mar 14. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet. 395 (10227), 912–920. https://doi.org/10. 1016/S0140-6736(20)30460-8. (Epub 2020 Feb 26).

2. Koyuncu OO, Hogue IB, Enquist LW (2013) Virus infections in the nervous system. Cell Host Microbe 13:379–393. https://doi. org/10.1016/j.chom.2013.03.010

3. WHO Director- General's opening remarks at the media briefing on COVID-19 - 3 March 2020 - World Health Organization, 2020

4. Neuroinvasion, neurotropic, and neuroinflammatory events of SARS-CoV-2: understanding the neurological manifestations in COVID-19 patients



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